Começa com umas cenas da juventude da nossa protagonista, Catalina, com um amigo de escola, Xico, que mais tarde se revela ser a sua paixão e também um dos motivos para o seu suicídio. A cena do suicídio de Catalina arranca logo, dando a premissa do livro; surge Karmen, um anjo da morte que teria a sua função de levar Catalina para o outro lado. No entanto Karmen mostra-se mais como um anjo da guarda, levando Catalina a ver como estão e como reagem as pessoas que lhe são próximas, à sua morte.
No desenrolar da história Catalina cruza-se também com outras pessoas: Um homem que faleceu a ser atropelado, na qual Catalina descobre que o homem trazia uma aliança para se propor a uma empregada de um restaurante e que esta aguardava a sua vinda. Um criminoso que mostra que teve uma infância infeliz. E evidentemente com personagens mais próximas como a sua paixão o Xico, os pais e até mesmo a sua companheira de apartamento. Estas partes da história são criadas muito bem e de forma muito emocional, deixando ao leitor um sentimento de empatia por todas as personagens.
O livro acaba por abordar o suicídio e a morte, deixando de fora a religião ou dogmas pragmáticos, sendo um livro para todas as pessoas. Muitas vezes parece que é abordado de forma quase juvenil, por Karmen ser uma personagem sempre bem-disposta, jovem, na brincadeira e irreverente; Karmen que trabalha numa agência sobrenatural que encarrega os seus funcionários pela morte das pessoas e que muitas vezes aparece Karmen a discutir com os seus colegas e superiores hierárquicos. Como disse parece uma ideia juvenil, mas tem uma complexidade tão inteligente de expor os conceitos de morte e suicídio dessa forma, que faz uma história profundamente matura, adulta e sábia.
Abordar a morte, o suicídio e os problemas da vida de uma forma tão animadora não foi um ato de incoerência ou irresponsabilidade, mas sim um ato para realçar que a morte é triste, mas não é o fim de tudo, que o suicídio não é a solução para nada ou muito menos o caminho para a felicidade, mas sim a vida, que deve ser mantida, gozada, apreciada e que vale sempre, mas sempre ser vivida.
A nível gráfico está excelente, muito característico do autor Guillem March que neste livro ele foi responsável por toda a sua criação, desde história e ilustração. Storyboard boa, planos, arquitetura de edifícios, dinâmica de poses e perspetivas são algo sempre presentes nos desenhos. Uso de cores frias, especialmente o azul e rosa. Magnifico mesmo. Existem livros de banda desenhada que quase poderiam ser comprados apenas pelos desenhos e para uso de referências para outros artistas. Este é um deles.
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