Regresso ao Éden é um livro bonito que conta, em forma de regresso ao passado, a vivência de Antónia, que agora na sua idade avançada, nos dá a conhecer a vida familiar, social e político-económico da altura da sua juventude. Dando enfase ao Éden de Adão e Eva, fazendo comparações dos capítulos com a bíblia.
A história começa com a chegada de Antónia a sua nova habitação e em que a sua primeira preocupação é onde está a foto de família que ela tanto ama. A partir dessa foto, a história desenvolve-se como um documentário de toda a sua família, mesmo dos que não estão na foto. Destacando que embora possa seja uma história sobre uma família pobre, de classe trabalhadora, nos anos da ditadura de Espanha; existe uma semelhança enorme, quase como um reflexo de um espelho, de muitas pessoas e famílias em Portugal.
A fome, o trabalho árduo e pouco remuneratório, o pouco material e capacidades que a família tem, o amor duro de pessoas que tem uma vida difícil e em nada ou pouco existe para alegrias; são temas muito abordados no livro. Embora, eu pessoalmente, possa dizer que isto aconteceu com os meus bisavós, avos e pais, não achando nada fora do comum para aqueles anos, não posso dizer que possa ficar indiferente. Ao ler este livro, que pode parecer uma história de qualquer família naqueles anos, faz-nos repensar o quanto passaram os meus avós e pais naqueles anos, todas as dificuldades e sacrifícios que passaram, para nós, hoje, termos a vida que temos. Irmãos que vão viver a vida sem nunca mais se verem, seja por procura de uma vida melhor, seja por ter agora a sua própria vida quando saem de casa. Paco Roca consegue manter alguns momentos de alegria e até comédia, seja com ironia ou seja pelas simples coisas da vida; mas no final fica a sensação agridoce da história de uma família que podia ter uma vida melhor, mas que também era impossível.
A historia é focado em Antónia, sendo mais direcionado evidentemente para as mulheres, que com razão, eram umas das que mais sofriam ás mãos dos homens, duros e “brutos” e li em outras avaliações do livro, que este livro é uma homenagem as mulheres, especialmente a mãe e avó de Paco Roca.
Agora uma opinião mais pessoal, sabendo que o normal era muitas vezes ser o homem a trabalhar para o sustento da casa e a mulher a ficar em casa, e que no dia de hoje que li o livro vi também uma publicação da Comunidade Cultura e Arte em que exibe um Excerto de entrevista à Visão de 2015 de António Lobo Antunes em que diz: "Todos os homens quando estão aflitos querem a mãe, tenham a idade que tiverem. Vi morrer tanta gente nos hospitais e nunca vi um homem chamar pelo pai. É espantoso. Velhos e doentes com mais de cem anos: “quero a minha mãezinha”. Com mais de cem anos continuam a chamar pela mãe. É extraordinário."
Evidentemente os tempos são outros, mas ter uma opinião que a fotografia faltava os irmãos porque já tinham saído de casa, e que faltando o pai também não fazia mal, foi isso, ao acabar de ler este livro, é esta a frase que me ficou: “(…) e nunca vi um homem chamar pelo pai.”
A nível de desenho, continua o mesmo estilo de Paco Roca, simples, mas bem conseguido (4/5)
Editor: Levoir
Idioma: Português


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